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Política precisa-se

Para muitos a S.I não passa de uma moda passageira ou de um processo interdito a leigos em informática. O artigo
alerta-nos para a necessidade de uma motivação colectiva, motivação essa que deverá emergir da classe política. Essa necessidade advém do facto de a S.I estar a revolucionar os modos de comunicação no planeta, alertando para o facto de que quem dominar esta matéria terá um poder de liderança e um papel preponderante num futuro próximo.

Assim urge informar e incentivar todos a usarem e a se inteirarem com as novas tecnologias. Com esse fim o
Ministério da Ciência e Tecnologia está a elaborar o livro verde para a S.I. .


Em 96 começou a desenhar-se a Sociedade de Informação. Agora impõe-se uma acção política mais agressiva

RUI TRINDADE

in

Expresso, 28 de Dezembro de 1996

A sessão de encerramento do segundo encontro
da Penha Longa, que discutira a versão zero do Livro Verde para a Sociedade de Informação, tinha acabado há instantes. Enquanto se preparavam para sair, pequenos grupos de participantes, iam trocando, informalmente, opiniões e comentários.
Num desses grupos, José Magalhães contava um
pequeno, mas significativo, episódio que ocorrera com ele há alguns dias. Cruzando-se na Assembleia da República com um jornalista de um conhecido semanário de referência, José Magalhães comentara, entre outras coisas, a importância de um projecto como o «XXI». Resposta rápida do jornalista: «não me diga que você liga àquilo?».
O episódio é sintomático e exprime de forma elo-
ligar as escolas à Internet
Ligar as escola à Internet constitui uma das primeiras iniciativas da Sociedade de Informação
quente o que, em muitos meios, se pensa (ou melhor, não se pensa) acerca da Sociedade de Informação.
No caso relatado, «aquilo» é um projecto que , para a pessoa em causa - imagine-se - fala essencialmente de
«máquinas» e só interessa, na melhor das hipóteses, aos «informáticos» e aos adolescentes que gostam de jogos.
O que esta «anedota» tem de emblemático é que o olhar que ela transporta sobre os conteúdos deste suplemento
é extensível, em outros contextos, ao modo como se encara a «Sociedade de Informação».
Como foi surpreendentemente verificável num dos painéis de discussão organizados na Penha Longa, há quem
olhe para o futuro e não veja em perspectiva muito mais do que uma «empreitada» destinada a criar novas «infra-estruturas».
Embora não possa haver «Sociedade de Informação» sem os adequados suportes tecnológicos, é hoje claro que o
que está em curso é um processo, radical, de reformulação dos modelos de organização social, económica e política que têm moldado as sociedade contemporâneas.
E nesta «revolução», que está em marcha e não espera por «livros verdes», torna-se premente que todos os actores
- individual e colectivamente - saibam, com clareza, reposicionar-se.Ora, neste capítulo, as insuficiências parecem gritantes.
A criação da Missão para a Sociedade de Informação - e o lançamento do processo de
discussão para a elaboração do «Livro Verde» - bem como o anúncio de algumas iniciativas, como é o caso da ligação das escolas à internet, constituem passos importatíssimos, na direcção certa, para a construção da Sociedade de Informação.
Mas, como referiu José Magalhães na mais inteligente e significativa das intervenções
produzidas na Penha Longa, a «Sociedade de Informação» está a ser construída, diariamente, em múltiplos «fora» internacionais, onde tópicos decisivos - dos direitos de autor à fiscalidade na era
Mariano Gago
digital - estão a ser discutidos.
Ora, qual é a posição de Portugal nestas discussões? Não se sabe. Como é que os diferentes responsáveis vêm a
transposição de muitas dessas decisões para o contexto político e legislativo? Não se sabe. Isto não quer dizer que não haja participação nacional competente nalguns desses «fora», nem que não sejam tomadas posições perante certas questões. O que não é claro é qual o sentido global dessas posições - e duvida-se que haja um.
Ou seja, a sensação que prevalece é que a resposta dada às questões levantadas pela «Sociedade de Informação»
é, sobretudo, «técnica», como se estivéssemos, meramente, perante a necessidade de fazer um «upgrade» tecnológico na sociedade portuguesa.
Primeiro tivemos a política do betão e das auto-estradas. Agora a modernização passaria, basicamente, pela constru-
ção de outras «auto-estradas», as de informação. O «resto» virá por acréscimo, supôe-se. Virá mesmo? É duvidoso.
O que acontece é que na actual passagem para a Sociedade de Informação se assiste a uma clara redistribuição de
papeis, a nível planetário, com implicações decisivas para as relações de forças entre os diversos países e com incontornável impacto na configuração econónica e cultural emergente.
A incompreeensão «política» deste fenómeno pode ser fatal. A economia da era digital, ao contrário do que sucedeu
com o processo de industrialização «clássico», oferece inúmeras possibilidades mesmo a um país pequeno como Portugal. E a visão contida em muitos documentos do «Livro Verde» mostram claramente esse entendimento.
Mais uma vez, não é a este nível que existe um défice. Para retomar o sentido da intervenção de José Magalhães,
«Sociedade de Informação» tem de deixar de se confundir com uma «comissão» obscura, encarregue de produzir um qualquer documento - por mais qualificado que possa ser - para se transformar numa «visão» capaz de mobilizar um país.
Esse é, sem dúvida, o desafio político central dos próximos anos. Para que isso aconteça é preciso «conquistar» o
espaço público com uma intervenção mais agressiva que demonstre que o que está em perspectiva é uma mudança qualitativa da sociedade portuguesa em que todos estarão implicados.


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