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Os pobres da aldeia global

O artigo dá ênfase ao poder que as novas tecnologias têm para diminuir as "diferenças entre os homens". Ou seja,
qualquer cidadão ou comunidade depois de ultrapassadas as dificuldades, que por ventura poderão existir, de meios e infra-estruturas tecnológicas, tem acesso à informação podendo participar na construção da SI .

Na tentativa de combater a info-exclusão, o livro verde para a Sociedade de Informação, prevê a instalação de
infra-estruturas tecnológicas em escolas, bibliotecas, museus, arquivos, etc... .


A falta de informação e de acesso às tecnologias é causa de novas exclusões. A Sociedade de Informação pode diminuir as diferenças.

António Henriques

in

Expresso, 22 de Fevereiro de 1997


Em 1994, a Biblioteca Pública de Seattle (no estado de Washington, Estados Unidos), decidiu instalar 24 terminais de acesso à Internet. O átrio era habitualmente frequentado por um grupo de sem-abrigo. Sem que os responsáveis se apercebessem, os sem-abrigo começaram a interessar-se pela Internet e a participar em grupos de discussão. A certa altura, tornaram-se monitores dos visitantes pouco familiari- zados com as tecnologias.
A história parece um argumento de Hollywood para donas de casa. Mas é a versão moderna do «sonho americano», e aconteceu mesmo. José Vítor Malheiros,
imagem
jornalista do «Público» contou-a num encontro em Lisboa que debateu a info- O debate sobre a info-exclusão pôs em relevo a falta de imformação da população carenciadas
-exclusão, como exemplo de que as novas tecnologias podem diminuir as diferenças entre os homens.
O debate, organizado pela Missão para a Sociedade de Informação (SI), contou com os testemunhos de elementos
ligados à Comissão Nacional de Luta contra a Pobreza e às Misericórdias. Oliveira Ramos, Comissário Nacional na Luta contra a Pobreza, salientou a situação do interior português é particularmente dif ícil. Ali, a exclusão faz-se pela ausência de informação, de vias de comunicação ou de electricidade, problemas que tornam as tecnologias novas miragens.
Outra experiência foi trazida por Manuel Lemos, responsável de União das Misericórdias. Um programas de ins-
talação de computadores num centro dum bairro degradado da Maia entusiasmou os míudos locais. Estão em contacto com os de outros países, via Internet, produzem jornais e estão a criar a sua página na rede. «Teve de ser fora da escola, o absentismo era grande», explicou Manuel Lemos. O programa, iniciado em 1991, vai estender-se a outros bairros.
As histórias bem sucedidas não escondem as dificuldades. Como o acesso às tecnologias. Esse acesso deve ser,
segundo Vítor Malheiros, gratuito ou tendencialmente gratuito em lugares públicos. O «Livro Verde» (relatório de um diagnóstico sobre a implantação da SI a apresentar à Assembleia da Replública) apresenta medidas nesse sentido: equipar os estabelecimentos de ensino com computadores ligados a redes; a existência de um computador multimédia em cada sala de aula até ao ano 2000; a extensão da rede electrónica a centros de documentação, bibliotecas, arquivos e museus; comtemplar nos programas escolares a SI e a promoção de programas extra-escolares e de formação profissional no âmbito da SI.
À falta de informação juntam-se outras situações de exclusão, caso dos deficientes. A tecnologia permite ultra-
passar barreiras porque é acessível de vários modos. É preciso, no entanto, que ela seja disponibilizada. Mário Franco, da Fundação para a Divulgação das Tecnologias de Informação, lembrou que o teletrabalho pode acabar com outras exclusões: as das mulheres e dos idosos, impedidos por razões físicas, em certas circunstâncias, de manter postos de trabalho.
Fernando Martins, do «Jornal de Notícias» (vai ter uma edição falada para cegos), preferiu referir a falta de hábitos
de leitura. Dos jornais, disse terem uma linguagem longe dos jovens. e lembrou a experiência do «Chicago Tribune», que passou a ter uma edição de domingo feita por jovens. Com uma tiragem cinco vezes superior à média semanal.
A info-exclusão é, em último caso, uma questão de democracia. «Um problema político- -social que urge resolver»,
salientou Mariano Gago, ministro da Ciência e Tecnologia, presente no ínicio do debate. E que deve contar com outro fenómeno: o da auto-exclusão. Os que ficam de fora da SI, apesar de terem condições para se integrarem, podem ser os novos pobres da aldeia global.



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